terça-feira, outubro 21, 2003

ROBERTO MATUTE: 3a E ULTIMA PARTE DA SAGA. Em Belem, o regresso as boas exibiçoes. 26 jogos e 8 golos, com os pasteis na Segunda Divisao de Honra, e o possante espanhol, olhos fixos no Tejo, cada vez mais a arrastar o seu poderio fisico pelo relvado. Apesar dos jogos correrem de feiçao e a sua media nao ser de menosprezar, notava-se em Matute um ligeiro aumento de peso e perda de velocidade. O dominio da tecnia da Morte Toraxica continuava intacto, mas Belem pedia mais. Assim, no final da epoca, com o passe na mao, é tempo para mais uma corrida, mais uma viagem. O destino? O Dundee United, lendario clube escoces do feiticeiro tobaguenho Russel Latapy, galardoado com um voto na escolha dos seleccionadores FIFA para melhor jogador do mundo, e sobejamente conhecido pelo sanguinario duelo com Jokanovic e por ter furado as redes de um estadio brasileiro num estagio do FC Porto de final de epoca (momento que o programa Contra Ataque registou para a posteridade, como é seu apanagio). Foi na Escocia que Matute viveu a febre do bug do milenio, alinhando apenas em 5 encontros. Os frios ares da Escocia fizeram dele o ultimo hispanico de renome a alinhar na frente de ataque do clube escoces, ate a chegada de Claudio Cannigia, ja devidamente recuperado do stress pos-traumatico provocado pelo embate com Coroado na Luz (a celebre Batalha dos Cartoes). Depois da Escocia, o regresso a casa e hoje pode dizer-se que Roberto Matute agita o mercado dos escaloes secundarios da Liga Espanhola, tendo recentemente protagonizado uma bombastica transferencia, ao recusar renovar com o Gramenet para assinar pelo Recreacion. Um cidadao do mundo, sempre na vanguarda, ou o ultimo de uma rara estirpe de colossos irredutiveis a tentar mostrar ao mundo que ainda ha espaço para a tecnica da força. Chaves e nos, como sempre, nao esquecemos.

segunda-feira, outubro 20, 2003

Depois de um tackle extremamente agressivo de um jogador magrebino ter transformado a ode a Matute num mero prologo de homenagem (um carrinho ao jeito do saudoso belenense marroquino M'Jid), urge continuar a travessia por esse homem que, tivesse tido arte, engenho e bons conselhos, seria um verdadeiro pichichi na liga de nuestros hermanos. Jogador sintese do poderio animal, Roberto Matute reinnava na area como o leao reina na savana, uma supremacia fisica imperial, qual Cortez a invadir as Americas. Nascido em Agosto de 1972, Roberto Matute Puras começou a dar nas vistas no Logrones, onde os olheiros flavienses o foram descobrir, a ensinar as camadas jovens a matar a bola no peito. "Matar no peito", expressao do futeboles que romanceia a arte de roubar a vida a uma vola veloz, fazendo-a adormecer na caixa toraxica, requer uma mestria acima da media: o gesto simultaneo de levantar a cabeça, calcular a trajectoria da bola, posicionar o tronco, dar-lhe a inclinaçao adequada e depois, encaixar o impacto deixando a redondinha rolar até a ponta da bota nao é facil, mas Matute fazia como quem come uma tapa. Em Chaves, obviamente, titular indiscutivel na temporada de 96-97, passeando numa frente de ataque que conheceria tambem os avançados espanhois Miner e Dani Diaz, para alem do poste romeno Cuc. Nessa temporada, 10 golos em 34 jogos, media assinalavel, em Tras os Montes. Na temporada seguinte, um ligeiro declinio para 26 jogos e 3 golos, perda de rendimento que levaram o tigre catalao a paragens mais a sul, e mais azul. Era tempo de Cruz de Cristo. FIM DA PARTE 2 Nao percam, carissimos leitores, a conclusao da odisseia de Roberto Matute, nos proximos dias!

quarta-feira, outubro 15, 2003

(ponto previo: este post sera escrito com muito poucos acentos, dada a longinqua proveniencia, um lugar onde os teclados sao tao diferentes quanto o estilo de jogo da lusolandia) Arrumado o ponto previo, o Chaves. Os rasgos de exuberancia futebolistica e os excelentes golos de bandeira dos saltimbancos da bola lusa regressam agora à sede dessa paladina missao que é o Tras-os-Montes All Stars da decada de 90. O holofote recai agora sobre o portento catalao Roberto Matute. Apesar de ser um nome que nao necessita de grandes introduçoes, impoe-se a resenha. Impoe-se porque se existiu jogador que personificava a expressao "mata no peito", era Matute. Um pouco à semelhança desse Messias chamado Jesus Seba, futebolista de 24 quilates, garboso bolide de 160 cavalos quando engatado na ala direita, Roberto Matute era tambem ele um genuino produto do animismo futebolistico, esse sentir do futebol como uma religiao primordial, que tranforma os jogadores na expressao pura da divindidade dos animais selvagens. Matute era assim, corajoso como um falcao, indomavel como um puro sangue arabe mas tambem preguiçoso como um reptil herbivoro. FIM DA 1 PARTE

segunda-feira, outubro 13, 2003

A Caderneta da Bola faz hoje uma viagem até à cidade do antigo governador civil, transformado em Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, viajando de moliceiro pela Ria de Aveiro, até chegar ao rural Mário Duarte, onde a relva é tão comprida quanto o cabelo do antigo central Dinis. O nosso visado é Aldo António da Costa Soares, conhecido no meio por Simone, que não tem como primeiro nome Marco, nem como apelido De Beauvoir, avançado da classe de 66, angolano de origem, descoberto para as lides da bola pelo mítico treinador dos onze dedos, Álvaro Magalhães, quando treinava o Lusitânia de Lourosa, repleto de figuras do 'triste fado' futebolístico nacional, como o 'veterano' ponta de lança Penteado, que até tinha pouco cabelo ou o defesa Carmindo, dos tempos do Águeda primodivisionário, isto para não falar dos promissores Basílio Almeida e da 'eterna promessa' Marco Stromberg, um extremo que, aos 10 anos, era vedeta dos infantis do 'Glorioso' da Luz. Esta equipa destacou-se na época de 93/94, por ter chegado aos quartos-de-final na prova rainha, eliminada pelo Sporting em Alvalade, depois de ter superado o Belenenses de João Alves, num jogo “bombástico”, numa partida em que a relva parecia ter chegado directamente de Paranhos para substituir a que tinha sido destruída por Mark Knopfler nos seus concertos à grande-jogador-só-que-temos-o-plantel-fechado. De qualquer maneira o Lourosa, foi para essa época aquilo que o Sandinenses viria a ser mais tarde, isto é, uma equipa, vinda do deserto do nada, em busca do Graal, impossível de alcançar, que é o ceptro de Taça, que às tantas, deixa de o ser. Depois de passagens pela terra de Vieira de Carvalho e pela Vila das Aves, o avançado Simone, que não era alto, muito menos loiro, mas era tão tosco como o jogador que deu origem a essa expressão, deu nas vistas na sua segunda época de Lourosa, onde marcou treze golos em vinte e nove jogos, e logo saltou para o Beira-Mar, onde nunca se impôs. É certo que a herança de Dino “Dumbo” era pesadíssima, mas o seu rendimento foi tão baixo, que acabou por ser recambiado para a margem...sul! A Amora era o destino, com José Rachão como técnico e o grande comentador e 'bombista' Manuel de Oliveira, que ao contrário do realizador, cultiva um estilo mais “mexido”. Na Amora, as coisas voltaram a não correr bem, e no final da época o jogador procurou a redenção em Fátima, onde nunca encontrou a luz, neste caso, das balizas contrárias. Mas a explicação até pode ser dada pelo facto de não ter sido orientado em território santo pelo 'mítico' Válter Ferreira, que, para alguns, foi um 'pastorinho' fora do tempo. Quem não se lembra da história dos dólares com a face de António Oliveira? E o carimbo do N'Dinga? Depois de três anos de rasto desconhecido, com passagem pelas divisões inferiores do futebol francês, o regresso deu-se no local mítico da queda do avião de Sá-Carneiro, Camarate, jogando pelas águias locais. Mais uma corrida, mais uma viagem, mais um descalabro! A carreira do jogador estava irremediavelmente destruída, registando ainda uma passagem pelo Barrosas, dos distritais nacionais. Perguntará o caro leitor o que é feito de Simone? Resposta : Está detido, em Paços de Ferreira, por tráfico de droga. A NTV ao reportar uma partida de presidiários, apitada por Paulo Paraty, auxiliado por Carlos Calheiros, sem bigode, num encontro de notáveis, onde não faltou a presença nas bancadas de um antigo presidiário do balneário de Chaves (Major oblige), Vítor Reis, o canal com pronúncia do norte descobriu o jogador, que se mostra arrependido do que fez e disposto, ano e meio depois da detenção, a mudar de vida quando cumprir os cerca de seis anos que ainda o esperam. Resta saber se essa vontade de voltar atrás, não passa por esquecer a carreira de jogador, que, diga-se, teve sempre uns milhares de miligramas a mais.