terça-feira, dezembro 04, 2007

Parece tarefa impossível ensaiar qualquer tipo de explicação cósmica sobre o papel do Vitória de Guimarães de 1993/1994 nesse mecanismo misterioso que a máquina da bola sem invocar as bases da Teoria do Caos. Diz o enunciado do efeito borboleta que o bater das asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar, numa cadeia de pequenas relações causa-efeito, um tsunami no Golfo do México. Futebolisticamente falando, isto equivale a dizer que simples acto de dar, em 1969 e a um recém-nascido em Joanesburgo, o nome do bandido palestino que protegeu José e Maria da fúria de Herodes na noite do nascimento de Cristo, pode estar relacionado com uma sequência de slaloms na meia direita do serra-leonês Sessay, abrindo caminho para uma empolgante exibição de um franzino minhoto em Castelo Branco, circa 1992. Estes dois eventos passariam despercebidos no curso da vida da Bola se não fossem eles também outro bater de asas de mariposa que originou, em Guimarães, dois históricos tsunamis nas alas da defesa, um ano depois.
Esta abordagem comparada não significa, no entanto, que ambas figuras possam ser consideradas aço da mesma armadura. Pelo contrário, são uma representação exacta de dois trajectos e duas configurações físicas e tácticas tão típicas quanto opostas, e de como a simetria e uma mesma condição de escudeiros de nomeada nas batalhas do Afonso Henriques possam levar a caminhos tão distintos como o Panteão e o Esquecimento – ambas entidades uma sepultura injusta para a memória de cada um destes jogadores. Falamos, claro, de Dimas Manuel Texeira, que viveu em Guimarães um mandeliano exílio regenerador para depois abraçar a glória mundial qual Berardo do flanco esquerdo; e de Joaquim Alberto Machado, conhecido no futebol português como Quim Berto (e não como Quim Machado, para não se confundir com a lenda de Santo Tirso, também ele defensor vimaranense na temporada anterior à sua chegada, e figura de singular proeminência no futebol mundial, ao tentar ressuscitar, mais tarde e como treinador, duas entidades defuntas no universo futebolístico internacional: o futebol luxemburguês e o Tirsense).

Sem comentários: